Δευτέρα 26 Μαρτίου 2012

R.I.P. ANTONIO TABUCCHI (1943 - 2012)

Σε νοσοκομείο της Λισαβόνας έσβησε χθες, νικημένος από τον καρκίνο κι αυτός, ο σημαντικός Ιταλός συγγραφέας, διηγηματογράφος και ακαδημαϊκός Antonio Tabucchi. Υπήρξε ένας από τους πιο φανατικούς θαυμαστές της ποίησης του Fernando Pessoa, με την οποία πρωτοήρθε σε επαφή κατά τη διάρκεια των σπουδών του στη Σορβόνη των 60s και μάλιστα άρχισε να μελετάει την πορτογαλική γλώσσα προκειμένου να κατανοήσει σε βάθος το πνεύμα του ποιητή. Κατέληξε να διδάσκει την πορτογαλική γλώσσα και λογοτεχνία ως ακαδημαϊκός πλέον στο Πανεπιστήμιο της Siena στην Ιταλία. Η ''σχέση'' του με τον Fernando Pessoa συνεχίστηκε μέχρι το τέλος, αφού εργάστηκε ακάματα ως κριτικός, μεταφραστής και διαδότης του έργου του. Μαζί με τη γυναίκα του, Maria Jose de Lancastre, είχαν δημοσιεύσει ένα βιβλίο με διατριβές, όπως και συγγράψει μία κωμωδία, εμπνεόμενοι από την πολυδιάστατη προσωπικότητα του εθνικού ποιητή της Πορτογαλίας. Το πρώτο βιβλίο του Tabucchi κυκλοφόρησε το 1975 και το τελευταίο το 2011 - σύνολο: περισσότερες από τριάντα λογοτεχνικές εκδόσεις, οι οποίες έτυχαν διεθνούς κυκλοφορίας και μετάφρασης σε 18 χώρες, συμπεριλαμβανομένου του ασιατικού κόσμου. Ο Antonio Tabucchi ήταν 68 ετών.  

6 σχόλια:

Фе́ммe скатале είπε...

Για μια Tabacaria ο Tabucchi μετακόμισε στη Λισαβόνα. Τελικά αυτή η συγκεκριμένη Tabacaria ήταν πολλαπλή σαν το σύμπαν. Το συγκεκριμένο ποίημα βέβαια δεν είναι του Fernando Pessoa αλλά του Alvaro de Campos κι αυτοί που πραγματικά τον αγαπούν ξέρουν καλά οτι αυτοί οι 2 για να μην πω και οι 72 ήταν άλλοι. Το ποίημα ολόκληρο παρακάτω, κι όποιος ξανατολμήσει να κόψει ποιήματα στη μέση, σαν διάφορους πανηλίθιους μπλογκερς που έμαθαν τον Νινίνιο απο τον Θαναση Παπακωνσταντίνου, και βάζουν αποσπάσματα του βιβλιου της ανησυχιας, και μάλιστα τολμούν να γράψουν απο κάτω οτι είναι και του Fernando Pessoa, να πάθει διάρροια μέχρι τα 80 του. Το βιβλιο της ανησυχιας ειναι του Μπερναρντο Σοαρες , και φυσικα η παλιά έκδοση στον Εξαντα εγραφε πανω Μπερναρντο Σοαρες ΜΟΝΟ. Μετα που τον κανανε μοδα κι αυτον, πλεον οι επόμενες εκδόσεις γράφουν σε παρένθεση ( Φερναντο Πεσσοα).Τι χάλια!Μπράβο Αντώνη που γράφεις τη Λισαβόνα με -ο και ένα σίγμα. Επιτέλους. Και μετά απο αυτά, R.I.P Antonio.

Фе́ммe скатале είπε...

TABACARIA

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Фе́ммe скатале είπε...

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

Фе́ммe скатале είπε...

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

Фе́ммe скатале είπε...

Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.

Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.

Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.

Álvaro de Campos, 15-1-1928

Фе́ммe скатале είπε...

Και φυσικά ο κωλογαμημένος blogger δε θέλει πάνω απο 4096 χαρακτήρες. Καθόλου σύμπαν ο blogger. Αει γαμησου.